Quem é Roberto Müller ?
Nasci em São Paulo,
capital, em julho de 1964, filho de pai contador e mãe enfermeira; permaneci em
São Paulo até os meus 19 anos quando mudei-me para o Rio para estudar
Arquitetura e aqui permaneci. Ainda em São Paulo, fiz um curso tecnico de Arquitetura onde
formei-me com 16 anos.
Como a arte entrou em sua vida?
Lembro-me
de já gostar de ver arte, mas os primeiros contatos mais fecundos deram-se na
faculdade onde tive o privilégio de ter aula com Lygia Pape e Nelson Felix
entre outros professores. Deste contato com eles nas aulas de plástica, surgiu
meu interesse, passei a frequentar todas as exposições da cidade.
Quando
criança, já gostava de desenhar, mas do contato com estes artistas na faculdade
e através de revistas , acabei indo estudar no Parque Lage, isto no final dos
anos 80, era uma época diferente , eramos matriculados em núcleos e tínhamos
aulas diariamente, com Daniel Senise, Beatriz Milhazes, Charles Watson e
outros, então era como um aprofundamente intenso, inclusive com atividades nos
finais de semana, com isto eu frequentava a Escola de Artes Visuais diariamente. Logo depois, fiz
vários workshops no Centro Cultural São Paulo, onde tive aulas com Nuno Ramos,
Amilcar de Castro, Iole de Freitas entre outros. Deste contato com a Iole
acabei tornando seu assistente por cerca de 4 anos, trabalhando em seu ateliê e
na montagem de diversas exposições suas. Já recentemente fiz outros cursos no
Ateliê da Imagem e retornei ao Parque Lage.
Embora
meu contato com a arte ter se dado nesta época, só mais recentemente, em 2010
voltei a produzir de forma mais contundente.
Que artistas influenciam seu
pensamento?
Difícil
enumerar sem esquecer de alguns, mas creio que de certa forma as obras de
Sophie Calle, Chiharu Shiota, Waltercio Caldas e do próprio Nuno Ramos pela
diversidade de seu pensamento plástico. Mas outro nome que não posso deixar de
citar é o do arquiteto Sergio Bernardes, com quem tive o prazer de trabalhar e
ser seu amigo.
Como você descreve seu trabalho?
Meu trabalho desenvolve-se no
estabelecimento de relações a partir de observações do cotidiano, algumas vezes
a partir de questionamentos sociais e outros fatos, muitas vezes com apoio de
imagens; construindo assim objetos onde estas imagens passam a ser coadjuvantes
no processo.Também em diversas obras a presença de textos se faz presente de forma isolada ou em conjunto com a fotografia.
É possível viver de arte no
Brasil?
Acredito que sim, através de um
trabalho sério e dedicado, mas até chegar exclusivamente a este ponto, pode-se
desenvolver outras atividades correlatas à arte.
Que importância para sua carreira
teve a exposição individual no CC da Justiça Federal?
Foi uma ótima oportunidade poder
apresentar 13 obras , que cobriam 2 anos de produção aqui mesmo no Rio e assim
ter a conveniência de um contato próximo com o público no decorrer de toda a
mostra.
O que é necessário para um
artista ser representado por uma galeria?
Como já
falei anteriormente um trabalho serio e dedicado e principalmente colocar o que seria seu
objetivo como consequência e assim as coisas acontecerem de forma natural.
Você participou do 45 SAC
Piracicaba, qual sua opinião sobre os Salões de Arte? Alguma sugestão para
apromorá-los?
Acredito que grande parte dos
salões está preso a antigos rótulos; seria mais produtivo que fosse distribuído
um valor a todos os participantes de forma a custear o envio das obras, pois
certas vezes a inscrição de certas obras
são inviabilizadoas por isto.
Como você estuda e se atualiza?
Estou sempre lendo ou pesquisando,
além de fazer alguns cursos , assistindo palestras ou workshops especificos.
Você tem uma rotina de trabalho ?
Minha rotina é não ter rotina; mas uma coisa é
certa como sou notívago, todo o processo de desenvolvimento das obras se dá
pelas madrugadas.
De que maneira um artista poderia
ser conhecido além do seu estado?
Acho que através de editais para
exposições e salões, o artista pode levar seu trabalho para locais que jamis
poderiam ser pensados, assim levei meus trabalhos para individuais em Goiânia ,
Mato Grosso do Sul e Londrina.Continuar no desenvolvolvimento do meu trabalho e atento a tudo ao meu redor que possam vir a ser frutos para outras obras e preparar-me para as próximas exposições.
O Ministério da Saude
não adverte, 2010
Por favor não perturbe, 2010
Ato ou efeito de observar, 2011
Vendo não veem, 2011
Tábula rasa, 2012
Labirinto, 2012
O Fim - A4, 2012
Jóia rara, 2013
“Derivações” é um conceito que poderia ser aplicado
a diversos modos de produção das obras de arte contemporânea. Roberto Müller cria
vínculos com as heranças da pop art e
da arte conceitual agora recodificadas. Tais derivações, nas obras de Müller,
afirmam que a pop e o conceitualismo deixaram
como legado discussões sobre a imagem, os modos de repetição, as estratégias de
circulação e as vinculações. No uso da palavra, Roberto Müller observa slogans,
poemas, relatos, ativando conceitos que fazem parte do cotidiano das mídias e
das cidades ou a declarações mais subjetivadas, advindas do relato. Ao mesmo
tempo, temos a criação vinculando imagem e narrativas que antes freqüentavam
lugares distintos. “Das ruínas e da morte” parte de fotografias que apresentam
construções antigas. A partir da impressão das fotos em ladrilhos, Roberto
destrói a cerâmica deflagrando ainda mais a aparência da ruína. Ao lado, um
texto que ora pode tratar de um bairro, ora de uma vegetação, por exemplo. Em
baixo, uma placa de localização. Nesta mistura, neste jogo de dispositivos, os
trabalhos de Roberto Müller presentificam uma espécie de quebra-cabeça,
mantendo imagens e legendas em flutuação.
Em “Por favor não perturbe” ou “O Ministério da
Saúde não adverte”, o banal das frases - mais do que gastas pela disseminação
exaustiva - se apresenta. O ato politicamente correto imposto à indústria de
cigarros e a obviedade dos recados para as camareiras nos hotéis são
apropriados pelo artista. Para efeito deslocado na relação entre imagem e
significação, o artista modifica as fotos, altera a lógica e coloca, por
exemplo, nos cigarros, imagens de populações de rua, menores abandonados,
carros dispensando fumaças tóxicas. Evidencia-se uma brecha nas políticas
públicas, na administração dos problemas sociais. No recado das portas de
hotéis, os mendigos. Há nesta manipulação de imagens, uma certa culpabilidade
da classe media, fato muito discutido desde os anos 70, quando a divisão entre
morro e asfalto, no Rio de Janeiro, precisava ser problematizada. “Mineirinho”,
conto clássico de Clarice Lispector, localizava os citados conflitos, mostrando
uma narradora preocupara em manter a segurança de seus filhos, mas aterrorizada
pela quantidade de tiros disparados pelo policial contra o marginal da época.
Além do interesse em manipular mensagens
publicitárias, Roberto Müller também utiliza-se dos modos de produção comuns
aos displays e anúncios. Vemos cortes a laser, impressões em metacrilato,
acabamentos impecáveis. Esta reificação estética deve ser entendida como
escolha conceitual. Hal Foster nos explica que toda critica é passível de
reificação do conteúdo a ser criticado. Ou seja, usar os elementos que são de
denúncia, na arte, cria uma inevitável estetização daqueles elementos,
conferindo-lhes beleza, no mesmo átimo de tempo em que se está produzindo sua
destruição. A isto chamamos de herança. A arte contemporânea eclipsa seus
referentes, embaçando possíveis localizações históricas. Com isso, vemos
pinturas que se utilizam dos gestos expressivos, esculturas
abstrato-geométricas, efeitos impressionistas em fotografias. Nas obras de
Roberto Müller, os elementos da cultura de massa se apresentam como herança
pop, alavancadas na relação entre palavra e significado que fora apresentada na
arte conceitual.
Em “Ato ou efeito de observar”, outra seara é
aberta., Roberto Müller utiliza-se da definição dicionarizada do significado de
observar, mas obstaculiza a leitura, mantendo o escrito coberto por uma placa.
Entrevemos o que está dito numa brecha lateral, num intervalo. Tal qual no
buraco da fechadura ativado por Duchamp no Etant Donné, aqui o espectador se
torna intruso.
Pensar a imagem e sua circulação, as legendas e suas
aderências à informação lança o trabalho de Roberto Müller num exercício de
dissociação, fazendo da materialidade o objeto precioso, como na série “Jóia
rara”. Ainda assim, o endereçamento de tais elementos a produtos, arquiteturas
históricas ou às sarjetas das cidades torna-se, cada vez mais, um modo de
tratar os dispositivos. Para Foucault, o dispositivo é um jogo de poder
servindo para a castração, o controle, a regra. Na arte, pensar os dispositivos
é, antes, observar a flutuação de conceitos que perpassa por evidências
imagéticas e objetuais. Olhar uma fotografia, observar uma cena na rua,
consumir produtos produzem cisões nos sujeitos. Podemos exercitar certa
cegueira, deixar-se inerte e inatingível aos anúncios. Ainda assim, há algo
inapreensível, como comenta outro filósofo, Giorgio Agamben, no momento em que
consumimos as mesmas imagens e giramos em volta da máquina. O jogo que se
apresenta na arte trata, então, de um processo ambíguo com mensagens fortemente
destinadas a subjetivação em ambientes, cubos brancos, que estimulam o oposto,
contribuindo para uma dessubjetivação. Vivemos num tempo impossível de se
contar segredos.
Marcelo Campos
CURRICULUM
Roberto Müller
São Paulo, 1964
Vive e trabalha no Rio de
Janeiro
Formação
1983-1988 _
Arquitetura Universidade Santa Úrsula,
RJ
1988-1989 _ Nucleo
de Pintura com Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Aluisio Carvão, Katie Van
Scherpenberg, Luiz Ernesto, Milton Machado, Charles Watson_ EAV Parque Lage, RJ
1988 _ História
da Arte com Viviane Matesco, EAV Parque lage,RJ
1990_ Workshops
com Nuno Ramos, Amilcar de Castro e Iole de Freitas, Centro Cultural São
Paulo,SP
1990_Workshop
com Tunga, Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro, RJ
1992-1997_Assistente
da artista Iole de Freitas, RJ
2010_Cursos de
Fotografia com Cesar Barreto, Claudia Tavares, Leonardo Ramadinha, Thiago
Barros, Ateliê da Imagem, RJ
2010_Workshops
de Fotografia com Miguel Chikaoka e João Castilho, Paraty em Foco, RJ
2011_ Workshop
com Gui Mohalem, Paraty em Foco, RJ
2011-2012_ Grupo
Alice com orientação de Brígida Baltar e Pedro Varela, RJ
2012_Arte fora
do cubo com Daniela Labra, EAV Parque Lage,RJ
2012_Arte
Contemporânea com Marcelo Campos, EAV Parque Lage, RJ
2013_Teoria e
Portfolio com Marcelo Campos, Efrain Almeida e Brigida Baltar, EAV Parque
Lage,RJ
Exposições Individuais
2013
Urbanidade
- Sesc Londrina, Londrina - PR
Derivações
- Centro Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro - RJ - Curadoria Marcelo
Campos
2012
Museu de
Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, MARCO, Campo Grande - MS
Museu de
Arte de Goiânia, MAG - GO
2011
Centro
Cultural Fase, Petrópolis - RJ
Exposições Coletivas
2013
12º
Salão de Artes Visuais de Guarulhos , Guarulhos - SP
45º Salão
de Arte Contemporânea de Piracicaba, Piracicaba - SP
12º Salão Nacional de Arte de Jataí, Jataí - GO
4º Salão
dos Artistas sem Galeria, - Galeria Zipper e Casa Xiclet, São Paulo - SP
2012
XI Bienal
do Recôncavo, São Félix-BA
3º Prêmio
Belvedere Paraty de Arte Contemporânea, Paraty-RJ
Salão de
Arte de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS
6B - Centro
Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro - RJ
Fio Condutor,
Galeria Graphos : Brasil, Rio de Janeiro - RJ
21º Encontro de Artes Plásticas de Atibaia, Atibaia - SP
Mostra
Panorama Terra, Centro Cultural Brasil Argentina, Rio de Janeiro - RJ
2011
Assim sem
Você, Galeria Oscar Cruz, São Paulo-SP
Desvenda,
Museu Murillo de La Greca, SPA das Artes , Recife-PE
36º Salão
de Arte de Ribeirão Preto, SP
Prêmios
2012
Prêmio Aquisição
Salão de Arte de Mato Grosso do Sul, MARCO, Campo Grande - MS