Quem é
Maurício Noblat Waissman?
Nasci
numa família de pai judeu e mãe não judia. Meu pai, Moisés Waissman, era um
homem com um grande senso de humor e cultura clássica. Minha mãe, Rosenil
Noblat Waissman, é psicanalista e uma mulher de cultura mais eclética, podemos
dizer assim. A família sempre teve essa
mescla da experiência judaica como estrangeiro unido uma forte ligação com a
cultura baiana. Estudei no Colégio Maristas de Salvador. Tenho 38 anos e nasci
em Salvador – Bahia. Uso o nome de Noblat W nos trabalhos. Mais conciso.
Como a
arte entrou em sua vida?
A arte
sempre esteve no ambiente familiar. Minha mãe sempre teve quadros bastante
refinados, apesar de não serem nomes conhecidos no mercado. Tentei aos 18 anos
a música como caminho, mas não era fluente em mim. Como sempre desenhei desde
muito pequeno, comecei a mergulhar com tudo na literatura e desenhar sempre. A
literatura marcou bastante meu imaginário visual.
Qual foi
sua formação artística?
Fiz oficinas de desenho, pintura, cerâmica e
escultura no MAM – BA. Depois de a fotografia digital ter se firmado comecei a
fazer cursos de fotografia. Fui assistente de atelier do pintor e fotógrafo Edgar Oliva em
Salvador.
Que
artista influenciam seu pensamento?
Nas artes plásticas a
geração de pintores ingleses como Bacon, Auerbach, Freud, Hockney. Também
Balthus, Paula Rego e Hopper. De outro lado, o Neoconcretismo brasileiro, Mira
Schendel e outros como Louise Bourgeois, Richard Serra, Klee , Anish Kapoor. Porém, mais me influencia a literatura e a filosofia:
Kafka e Giorgio Agamben principalmente. Brueghel, Velásquez e Goya sempre me
marcaram. muito também. Algo de Naif é legal também.
Fale sobre os meios utilizados e os assuntos discutidos em seu trabalho.
Comecemos pelos assuntos: basicamente a idéia de
labirinto e palco. Esses dois temas se desdobram visualmente em grafismos,
figuras, texturas, espaços arquitetônicos que me deixam bastante livre para
transitar entre pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia e trabalhos
tridimensionais, além de ser uma metáfora da linguagem como elemento da vida e
abrir um leque para a sátira. Os meios usados são tecidos das mais variadas
texturas com objetivo de equilibrar as composições entre linha, cor e luz.
Penso mais na forma/e conteúdo do que nos materiais em si. Os meios e materiais(
técnica), de algum modo surgem no processo do trabalho. A técnica usada influencia a forma, mas não é
a forma. Pode surgir algo intenso com a técnica mais tradicional de uma
pincelada, como pode também demandar para atingir a forma o uso de certas
técnicas não tradicionais. Sempre penso em forma/ conteúdo primeiro para só
depois investigar que técnica será usada. Houve recentemente uma busca pela
excentricidade de técnicas que descambou para a técnica pela técnica. Em mim, o
que gera o impulso são os limites da própria linguagem( forma) em si mesma, mas
não desligada dos questionamentos a elementos do nosso tempo. Tento não me ater
apenas ao universo do mundo das artes e do mercado como objeto de ironia também.
A vida real é mais rica em nuances.
Como você
estuda e se atualiza?
Desenho, desenho e
desenho. No mais devorar literatura e se desligar da hemorragia de imagens que nos
bombardeiam na internet. Fotografar sempre. Ver o que está sendo exposto tanto de artistas
consagrados como seleções de Salões de Artes também é bom, mas sempre filtrando
o que interessa.
Que outros
fatores contribuem para elaboração de seu trabalho?
Um fator que hoje me intriga é a experiência entre o
original e a imagem copiada. A experiência com um original de Van Gogh , Bacon
e outros é única, mas a cada dia essa experiência com o objeto, com o original
se dilui, pois a grande maioria das pessoas tem acesso às imagens em livros e
pela internet. Outro fator que está muito no meu trabalho é o tema de que
vivemos uma Idade Média invertida. Em nenhum momento da história tanta
informação e conteúdo estiveram à disposição de todos como hoje em dia. Isso,
de algum modo, gerou um efeito
contrário. Tem-se informação demais e conhecimento de menos. Cada vez mais
somos empurrados a sermos rasos e superficiais em diversos assuntos. É uma
época de muitas “certezas”, apesar da intensa instabilidade/velocidade
em que vivemos. Todos, desde religiosos, cientistas, artistas, psicanalistas até
o simplório homem do povo, chegam a um ponto que não mais fazem perguntas e se
apegam a suas certezas. Isso é uma angústia de nosso tempo, pois se tem uma
ilusão de estarmos numa nova Renascença, numa “era do novo”, mas se olhar com mais atenção veremos que pertencemos
a uma época e atmosfera Goyesca. Tento
chegar ao ponto que essas sensações se expressem por si nos trabalhos, sem
necessitar de grandes explicações sobre ele.
Ao menos esse é um objetivo.
O que você pensa sobre o desenvolvimento e do mercado da arte contemporânea em
Goiás?
Eu, quando me mudei para Goiás, não imaginava que se
estava tendo tamanho movimento na área. Brasília (mesmo não sendo Goiás),
Goiânia e Anápolis apresentaram artistas muito versáteis nas exposições que vi
por aqui. O mercado está se consolidando como em todo Brasil. Existe certa
reticência a investir em arte ainda, mas
se deve também a um princípio básico de mercado : oferta e procura. Hoje é
muita oferta e muita insegurança acerca do que se insere como contemporâneo ou
não e o que tem qualidade ou não. Curadores, colecionadores e potenciais
compradores vivem um momento difícil em termos de definir o que tem potência
real para se manter e crescer e o que efêmero, datado e raso a médio/longo prazo.
É
possível viver de arte no Brasil?
Sim e não. Cada pessoa tem uma história de vida
singular. Um grande artista pode ser descoberto pelo mercado precocemente e ter
bons contratos, como pode passar boa parte de vida correndo atrás. Para o
segundo exemplo, que é maioria, o lance é continuar produzindo e se mantendo
com atividades outras até entrar. Por mais apertado que seja o que tem
qualidade mesmo uma hora entra e terá o devido reconhecimento. Sempre haverá canastrões que ficam ricos
precocemente e não são nada. É o famoso caso do artista que vale mais vivo do
que morto, pois tem bons contatos e sorte, claro. O importante é não entrar na “glamorização
da rejeição”, querendo reviver o romantismo de um Van Gogh e outros. Nosso
tempo é um tempo pragmático. Não há espaço para subjetivar demais o êxito e o
fracasso. Tudo é muito rápido e efêmero. Van Gogh viveu em outra época. A
competitividade do mundo atual não favorece os neuróticos. Para o mercado de
arte um psicótico é mais útil. Pode ser marketeado e bem vendido.
O que
você pensa sobre os salões de arte? Alguma sugestão para aprimorá-los?
Os Salões de Arte são ótimos para estimular os novos
artistas produzirem, pensarem e repensarem a produção. O fator mais positivo
que vejo nos salões de arte é que hoje temos curadores em número suficiente
para discordarem entre si. Quanto mais variedade de percepção entre os
curadores melhor para os artistas.
Quais são
seus planos para o futuro?
Produzir com fluência algumas idéias suficientes para poderem ser
expostas em conjunto. No mais, é tentar
não se seduzir pelo fácil e se policiar
para filtrar esse excesso de imagens em que vivemos. O mercado... uma hora as
coisas rolam.
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