Alê é um dos talentosos artistas da nova geração que ocupa um importante papel no Rio de Janeiro. Trabalhando com vários meios e com sua excelente formação e competência capacita-se para um destacado lugar na arte brasileira. Registro sua simpatia e agradeço. Marcio
Quem
é Alê Souto?
Nasci
no Rio de janeiro em Realengo, já desde pequeno variava de hiper agitado a
melancólico.Os Souto são bastante afetivos, e unidos como toda típica família
suburbana,o que me influenciou no trato com as pessoas ao longo da vida, tenho
poucas , mas boas e duradouras amizades. Minha mãe tinha atuado como pianista e
desenhista de projetos, quando nasci ela já se dedicava só a casa, me lembro bem
quando criança ela cantando o tempo todo enquanto eu coloria plantas baixas que
ela fazia pra eu me entreter, a televisão era sempre a segunda opção.
Como
a Arte entrou em sua vida?
A
arte acho que foi pelo cordão umbilical, já a contemporânea foi em um curso que
fiz em 2003 visitando a UERJ procurando um curso de línguas, caí numa aula da
Ana Bella Geiger, permaneci um semestre, fiquei perplexo como as várias formas de
materialização de uma idéia e encontrei nela (a linguagen contemporânea) o
veículo que procurava desde sempre para me expressar,tinha tentado com a
música,mas sempre faltava algo, a plasticidade.
Como foi sua formação artística?
A
partir desse primeiro contato fui estudar na Escola Visual do Parque Lage com diversos
professores, participei de um coletivo chamado Imaginário Periférico que me
abriu a percepção para o uso de diversos materiais. Quando comecei a viajar com
minha obra participei de residências que foram me dando mais base, o contato
sobretudo com artistas mexicanos e argentinos mexeu muito com meu fazer e pensar
arte.
Além
do estudo sobre Arte o que ajuda em seus trabalhos?
Quando
adolescente ajudava meu pai na loja da família, trabalho manual de bastante
paciência e precisão, trabalhava com vidros. Ele é um cara rigoroso e me fez
desenvolver uma espécie de abstração do esforço, então estou sempre superando os
limites impostos, até os espaciais. Ás vezes até problematizo mesmo pra ficar
mais forte a coisa . Acho que isso me ajudou muito na realização de trabalhos
que não tinham nenhum apoio de produção ( a não ser dos amigos) ralação mesmo
como Desmanche e Casulo Temporário, adoro também ver um trabalho ser construído
com materiais simples.
Que
artistas influenciam seu pensamento?
Caravaggio,
Martin Kippenberger, Kurt Schwiterz, Keith Harring, Hélio Oiticica, Rubens
Guerchmann Victor Arruda, acho que esses possuem uma espécie de iconoclastia em
suas produções retirados do cotidiano, da irônica,dramática e mágica
experiência humana, não consigo conceber arte pela arte.
Como
você descreve sua obra?
Como
uma sopa, alguns elementos ficam mais no fundo, outros sobem e descem, e um
caldo grosso envolve tudo.
Todas
são importantes, dentre as mais considero: Tumulto na Amarelonegro a que me
lançou na cena da arte carioca, MetrópoleRemix em NY me abriu um universo
imenso. Misterios, los nómadas el caos y oasis no Museo Macay em Yucatán, que
foi uma exposão, prorrogada 2 vezes. É difícil dizer qual é a mais
significativa, todas tem suas particularidades, poéticas, momentos e encontros
tão distintos. Diria que Gramática Urbana no Centro de Arte Héio Oiticica foi a
mais significativa pelo conjunto de artistas,momento, lugar e a curadoria da
Vanda Klabin, essa realmente foi forte.
É
possível viver de arte no Brasil?
Não é
fácil, mas com jogo de cintura (e nós temos muito) dá sim.
Qual
a importância da residência atística, que você participou no
México?
Aconteceram
duas na verdade em 2009 e 2010 e foram experiências inesquecíveis,atualmente
venho desenvolvendo uma série sobre a fronteira que acredito que começaram aí
quando fiz amigos de Tijuana, aprendi muito. Me impressionou muito a forma como
Demián Flores articula os apoios para os residentes em Oaxaca, uma cidade que
respira arte social, onde os aparelhos culturais foram todos fundados por
Francisco Toledo e seguem mantidos por ele, uma coisa que aprendi aí foi a
criação de uma rede trilateral, composta por artistas, estado e sociedade
(comerciantes, ativistas, cidadãos comuns)
Ser
casado com uma artista plástica (Simone Tomé) ajuda ou atrapalha na criação do
seu trabalho?
Caramba,
é bem legal, na verdade em aguns momentos mistura tudo, aí tem que conversar,
separar os papéis de cada um devagarinho pra gente não confundir as coisas,
acredito que sempre é assim quando acontece uma relação entre dois artistas, ela
me ajuda muito e procuro corresponder.
O que
é necessário para ser um ícone nas artes plásticas?
Como
disse na pergunta sobre os artistas que me influenciaram, gosto dos
iconoclastas, eles até acabam virando ícones depois, porque é inevitável,fico
pensando, será que é preciso ser iconoclasta primeiro pra depois ser ícone? não
sei.
Quais
são seus planos e sonhos para o futuro?
Viver,
viajar, sentir, sonhar, ou seja, continuar !
Desmanche, 2007. Acrílica, papelão sobre carro abandonado. Registro de ação em Santa Teresa. Foto: Almir Soares.
Desmanche casulo, 2007. Pintura sobre papelão colado 6x3,8 m. Registro da ação no Espaço Clarabóia. Foto: Julio Ferreti.
CT 3 Módulo de proteção penetrável. Papelão colado, fita adesiva colorida 12 mm, texto xerográfico e corpo. Foto: Simone Tomé.
Next stop, 2009. Acrílica sobre tela. diptico. 210x280 cm. Foto: Alex Topini.
Ladrões na fronteira do Ouro Negro - colagem, impressão fotográfica moeda e
caneta dourada, 50x50 foto Rafael Adorján
O êxtase do ouro negro, 2012. Diversos materiais. Site specific. Centro de Arte Helio Oiticica. Foto: Rafael Adorján
Ladrões na fronteira do Ouro Negro, 2012 .Instalação no cofre,diversos objetos medidas variadas. Foto Henrique Madeira