Duas amigas e artistas sem galeria Letícia Tandeta e Úrsula Tautz criaram a FaceArte Arte. No início, foi difícil, a falta de experiência e a corrida atrás de artistas desconfiados em pertencer à nova experiência digital. Nada as desanimou. Hoje, elas representam vinte e um artistas.
Quando e como foi criado o FaceArte Arte?
Há uma enorme quantidade de artistas competentes sem galeria, isso traz uma enorme dificuldade para divulgar o trabalho de cada um. Era o nosso caso. Pensamos inicialmente em criar um site virtual para venda de obras de arte. A idéia foi adiada em virtude dos custos envolvidos, muito acima de nossas possibilidades. Surgiu, então, a possibilidade de aproveitar o Facebook e a sua rede já instalada. Convidamos alguns artistas, que apoiaram o projeto e, em novembro do ano passado foi lançado o FaceArte Arte.
Vocês tiveram dificuldades em convecer os artistas a apostar na idéia?
Muito pouca. Alguns não aceitaram por motivos de outros compromissos, a maioria aceitou bem.. Depois daqueles artistas convidados, vieram os indicados e outros por demanda espontânea. Hoje temos vinte e um artistas representados.
A FaceArte Arte faz alguma limitação de preço, tipo ou tamanho das obras de seus artistas?
Não existe nenhuma limitação. Nós temos trabalhos cujos preços variam entre R$ 150,00 a R$ 25000,00. Os tamanhos são variáveis e comercializamos desenho, pintura, gravura, escultura, objeto, instalação, fotografia e vídeo.
Como é feita a seleção dos artistas?
Nós funcionamos como curadoras. Conversamos com os artistas, analisamos os currículos, visitamos o ateliê, trocamos idéias sobre o pensamento e mostramos o que podemos oferecer. Por sermos artistas o contato é facilitado e o acordo é finalizado.
Qual a comissão cobrada pela FaceArte Arte?
É de 25% sobre o valor da obra, muito abaixo do cobrado habitualmente, o que torna o produto mais barato.
Como funciona a divulgação do artista?
De segunda a sexta feira, publicamos a foto de uma obra nova de um artista. Alguns aparecem mais do que os outros, pois atualizam com mais frequência o seu acervo. Cada artista tem pelo menos a foto de um trabalho publicado por mes.
Há contrato de exclusividade?
Não existe, ele pode ser representado por outra galeria. É claro, que os trabalhos são diferentes.
Existe a possibilidade de aumentar o número de artistas representados?
Nós temos algumas limitações. Não temos condições de aumentar significativamente o número de representados, mas pensamos em crescer progressivamente.
Além do Facebook há outros meios de divulgação?
Sim, fazemos a divulgação pelo Flickr e pelo Twitter.
O comprador pode financiar a obra?
Sim, para valores mais elevados nós dividimos o pagamento.
Como funciona o mecanismo de compra?
É muito fácil. O interessado envia uma mensagem e faz o depósito em conta bancária. Ele receberá a obra em casa. Os custos do envio cabem ao comprador.
A compra pode ser paga com cartão de crédito?
Infelizmente não. Esse é um dos limitadores de nosso crescimento.
Não é complicado para um comprador, que não conhece vocês adquirirem uma obra por meio de depósito bancário para depois receber o produto?
Acreditamos ser esse um problema a ser resolvido. Há sempre um grau de desconfiança. Não tivemos, ainda, nenhum problema, mas isso pode ser um limitador para o aumento de venda.
Há possibilidade do comprador examinar a obra?
Existe. Quando artista e cliente moram no Rio, podemos agendar o encontro entre os dois.
Qual o perfil do comprador?
Não temos esse perfil definido.
O que levou uma galeria virtual a promover uma exposição real numa galeria?
Uma coisa complementa a outra. Quanto mais ações pudermos fazer, melhor. A galeria é virtual, mas os trabalhos não. Foi uma maneira de divulgar o trabalho dos nossos representados. A experiência foi ótima. O público pode interagir com os trabalhos ao vivo e a cores. A maioria dos artista estava presente e o público teve a oportunidade de conversar com eles.
Qual foi o resultado?
Foi excelente. Vendemos super bem, o número de visitantes superou nossa expectativa, a exposição foi elogiada pelo profissionalismo dos trabalhos e da montagem. Houve, também, um maior acesso de interessados em nossa página.
Há algum crítico ou curador trabalhando com o FaceArte Arte?
Não. No momento, por razões relacionadas a custos é impossível. Na organização e montagem da exposição real, fomos assessoradas por nosso amigo e grande artista David Cury. Grande parte do sucesso da mostra deveu-se ao trabalho dele.
De que maneira as galerias poderiam contribuir para absorção de novos artistas?
Abrindo as portas de maneira mais democrática e menos excludente aos artistas, sabendo encarar um bom trabalho sem preconceitos ou protecionismo.
Quais são os planos para o futuro?
Vamos evoluir para construção de um site próprio. Com ele poderemos aumentar o número de artistas representados, enviar mala direta, disponibilizar o pagamento por cartão de crédito, conseguir linhas de financiamento e fazer parcerias com outras galerias e outras instituições ligadas à arte. É um passo significativo, mas para crescermos temos que dá-lo.
Esse ano acontecerá a Bienal de São Paulo, FaceArte Arte terá alguma participação?
Diretamente não, mas estamos preparando uma surpresa para nossos amigos e cliente durante a Bienal.
Letícia e Úrsula agradeço a entrevista e gostaria de cumprimentá-las pelo trabalho desenvolvido. Para mim, a galeria virtual organizada pelos próprios artistas é a única alternativa para divulgar e comecializar os trabalhos dos artistas, que não são representados por galerias. A entrevista foi realizada em junho na Casa da Tata.